ETERNA SAUDADE
Em 1989, Denise fez testes para o grupo “Altos Louvores”, um dos grupos de maior sucesso da época. Não foi selecionada, mas foi muito elogiada pelo diretor do grupo, Edvaldo Novais, que a incentivou a acreditar no sonho de se tornar cantora. Davi sempre incentivou o ministério da esposa, mas era tudo um sonho, com as condições financeiras do casal e sem uma gravadora, era quase um milagre. Neste tempo, Davi havia abandonado a profissão de garçom e parecia ter descoberto um dom para trabalhar como barbeiro. Abriu um salão de beleza no bairro onde moravam e recomeçaram a vida profissional. Denise, fez cursos de cabeleireira e ajudava também. Naquele salão conheceram muitas pessoas influentes. Uma dessas pessoas, foi o ainda desconhecido cantor, Jota Neto , que mais tarde viria a ser um grande fenômeno da música evangélica. A partir dessa amizade nasceu a possibilidade da realização do sonho de Denise. Jota Neto que tinha várias propostas de gravadoras, resolveu abrir uma oportunidade para Denise participar do seu terceiro “LP”. O que acabou não acontecendo, por uma imposição da gravadora do cantor, a pessoa escolhida para participar daquele LP, foi a também desconhecida, naquela época, Rose Nascimento, que é claro , também tornou-se uma grande voz da música evamgélica. Mesmo, sem um álbum gravado, Denise participava de vários eventos e cultos em muitas igrejas. Neste tempo, não se cobrava “caché” ou ofertas, tudo era muito amador, no sentido literal da palavra.Diante de tantas frustrações e tantas portas fechadas, Davi não desanimou do sonho de gravar um álbum da esposa e foi atrás de tudo que tinha para conseguí-lo. Resgatou seu fundo de garantia, por tantos anos trabalhados e teimava em conseguir realizar este sonho. Nesta época conheceu o produtor Robson Wagner, o “Robby”, que ao ouvir a voz de Denise percebeu o potencial que tinha e procurou um forma de tentar produzir aquele álbum. Juntamente com o arranjador Davi Sicon, gravaram então o primeiro LP de Denise Cerqueira, com o título “Novo Ser”. Lançado em 1991, o LP não conseguiu um sucesso esperado, mas foi o primeiro passo em direção a carreira de Denise. Um dos maiores feitos daquela época foi a execução da música de trabalho na Rádio Melodia, o que era algo muito difícil, a música não só tocou como foi pedida, principalmente pelos amigos e familiares dela, que ligavam incessantemente para rádio pedindo a música.Com um trabalho bem executado, uma agenda repleta de eventos foi bem natural, o que culminou no ano seguinte na busca pela produção do seu novo disco. A continuidade era essencial mas a superação musical deveria ser o ponto mais importante . Foi aí que aconteceu um encontro muito especial para a carreira de Denise, Pedro Braconnot, produtor musical e componente da banda “Rebanhão”, foi indicado para fazer o álbum da cantora e nessa amizade assessorou na escolha do repertório. Apresentou, nada mais nada menos que as canções de Marcos Witt, ainda desconhecidas no Brasil. Canções de adoração e louvor congregacional sem igual, que traziam o verdadeiro espírito da adoração. Denise versionou várias músicas de Witt, entre elas “Renueva-me” – “Renova-me”, que foi a música tema do seu segundo “LP”, simplesmente estorou em todo Brasil. “Renova-me”, foi um sucesso de vendas e execuções nas rádios de todo Brasil, o que culminou com a ida da cantora para a gravadora “Redoma” em 1993..Em 1995, Denise entra para o cast da gravadora “Nancel”, composta pelos maiores nomes da música evangélica brasileira. Estavam ali, Shirley Carvalhaes, Jotta Neto, Lilia Franco, Marcos Antônio, Sergio Lopes, entre outros. Denise Cerqueira lançou o disco “Eterno Amor”, canção tema de Josué Theodoro. Esta música consagrou a carreira da cantora. Além de ser a canção mais executada daquele ano, foi escolhida como a música do ano de 1996, pelo Troféu Talento. Isso projetou a carreira da cantora de uma forma absurda e a fez uma celebridade daquele tempo. Denise destacava-se, não só pela bela voz ou talento musical, mas por sua humildade, por sua simpatia e carinho para com o público. Não se distanciava dos fãs, mas fazia amigos em qualquer lugar onde fosse.
Houve uma mudança de pensamento na vida daquele casal, quando passaram a congregar na Igreja Batista Renovada – Nova Filadélfia. O ministério do casal foi direcionado por Deus para área da palavra e renovação espiritual. Atuavam agora, não só se apresentando em cultos, mas dirigindo o louvor nas igrejas e pregando a palavra, promovendo uma renovação espiritual em várias igrejas onde passavam. Neste tempo, Denise assinou contrato com a gravadora “Grape Vine”, que lançou nomes como Aline Barros, Mattos Nascimento e Gastão Martins. Lançou seu primeiro “compact disk” denominado “Minha Adoração”. Nesta mesma época também produziu uma compilação de todos os seus sucessos, “Melhores Momentos”. Com uma carreira ministerial e artística bem solidificada, foi convidada a participar de vários projetos paralelos, um deles alcançou grande destaque, o cd “Dedé de Deus”, com o comediante Dedé Santana (Trapalhões).Apesar da grande divulgação alcançada, Denise nunca fez distinção entre igrejas, denominações, pequenas ou grandes, longe ou perto, Ela estava lá. Uma cantora do povo de Deus, que amava o que fazia, a ponto de abdicar até de momentos com a família para estar no altar cantando e louvando. Uma atitude marcante do ministério de Denise era a amizade e apoio que dava a cantores que estavam começando a carreira naquele tempo, pessoas que ela fazia questão de ajudar, e dizia: “Você não precisa passar pelo que eu passei”, como é o depoimento da cantora Georgete Rocha, uma grande amiga de Denise. Entre tantos amigos, Denise sempre foi querida e bem falada, dona de um testemunho de fé e simpatia.Em 1998, Denise era a mais nova contratada da gravadora Line Records, da Igreja Universal do Reino de Deus, naquele tempo a maior gravadora gospel. Lá, Denise lança o cd “Meu Clamor”, com canções de autoria de Josué Theodoro, Lenilton (Novo Som), Sergio Lopes e Marcos Witt. O álbum simplesmente foi um sucesso, principalmente pela música “Jerusalém e Eu”(Josué Theodoro) que era a música campeã das rádios naquele ano.
Também nesta época, o Rio de Janeiro vivia em estado de sítio, a violência crescia sem prescedentes. Eram assaltos, tiroteios em plena luz do dia, a ocupação das comunidades carentes pelas facções criminosas, em um governo de mãos atadas e sem interesse na pacificação do estado. Muitas foram as vezes em que o casal, Davi e Denise, junto aos seus assessores eram atacados, assaltados nas vias expressas do Rio. Mesmo dentro das estatísticas, o casal continuava a fazer a obra de Deus, cumprindo suas agendas rigorosamente e diáriamente por todo o Rio e fora dele. No dia 4 de setembro de 1998, Denise partiu em direção a um evento na Barra da Tijuca-RJ, ao lado do seu esposo Davi, quando passavam pela Av. Brasil, a mais movimentada da Cidade. Por volta das 19hs depararam-se com um “engarrafamento” na altura de Bomsucesso, comum nessas horas. Davi buscou uma rota paralela da avenida para não se atrasar. Quando então, depararam-se com um carro blindado atravessado ao meio da pista. Fechados e impedidos de passar, Davi tentou dar a marcha ré quando foi surpreendido por homens fortemente armados, eram assaltantes que estavam em busca de fuga. Haviam trocado tiros com seguranças do carro blindado e tentavam roubar o seu conteúdo. Encurralados, os bandidos renderam o carro em que o casal estava e simplesmente atiraram nos dois. Fuzís, pistolas, granadas eram as armas letais daqueles homens. Três tiros foram dados na cantora, os três, segundo a ocorrência policial, a uma distância de 3 metros dela, passaram de “raspão” pelo seu corpo. Denise caiu desacordada no banco do carona, tamanho o susto e a possibilidade da morte. Davi rendeu aqueles homens, foi atingido por um tiro de fuzil, o projetíl atingiu em cheio o seu pescoço e o fez cair do lado de fora do carro. Ainda atingido, levantou-se e foi em direção a esposa para tentar salvá-la. Denise disse ter visto seu esposo com uma hemorragia muito intensa e desmaiou logo em seguida . Os bandidos ainda trocaram tiros com a polícia, que chegou ao local, alguns fugiram, outros foram mortos e outros presos. Socorridos pelos policiais e levados para o hospital próximo, Davi não resistiu aos ferimentos e faleceu as 19:30hs. Denise foi sedada por remédios e levada para casa por conhecidos. Davi, era um homem de fé, bem-humorado, carinhoso com as pessoas e conhecido por ser quase um comediante da vida. Tinha 42 anos de idade quando faleceu. Em seu sepultamento, cerca de 4 mil pessoas estiveram presentes, o fato foi noticiado em vários jornais da época.No ano posterior, 1999, Denise se recuperou com ajuda da família e amigos, decidiu continuar seu ministério. Recebeu o prêmio máximo da época, por suas canções. Música do Ano, “Jerusalém e Eu”, Melhor Intérprete, Melhor vídeo clipe, e “Melhor compositor”Josué Theodoro. Foi o ápice da carreira da cantora. Ainda viajou para África e cumpriu seu sonho de ser missionária, além de participar intensamente de shows e turnes pelo Brasil. Com a ausência do marido, Denise se ocupou intensamente de eventos, talvez na busca de esquecer aquele trauma vivido no ano anterior. Mal parava em casa, sua mãe agora mentoriava seu lar e seus filhos, David(18) e Daniel(13 anos) . A vida e a carreira voltavam de alguma forma aos eixos. Denise preparava-se para fazer 39 anos e estava radiante com tudo que havia conquistado, apesar das dores e perdas.
No dia 15 de novembro de 1999, a cantora viajou para o Piauí, onde se apresentaria em um evento na cidade de Parnaíba, litoral do estado. Ao sair do aeroporto, foi encontrada por um grupo de irmãos da igreja, que a levariam até o local do evento. Era uma viajem de quatro horas e meia até aquele lugar. Conta-se, que em um dado momento daquele trajeto, Denise , que estava cansada , devido a maratona de eventos seguidos, pediu para estar no banco de trás daquele carro, quando adormeceu no colo de uma irmã. Naquele momento, o carro passava perto da cidade de Cocal, cerca de 300 km da capital Terezina, através da rodovia BR-343, quando começou a chover. Ao atravessar uma curva, conhecida como ” Volta da Jurema”, o carro desgovernou-se e bateu em um “meio-fio” da calçada, capotou seguidas vezes até se chocar com uma “Carnaúba”, espécie de palmeira da região. Haviam quatro pessoas dentro do veículo, Denise e mais três irmãos. Os irmãos da igreja saíram das ferragens do carro e buscaram socorro, menos Denise, que lá estava inconsciente. Segundo a ocorrência, o resgate chegou mas não houve tempo. Fala-se que no processo de capotagem do veículo, o fato da cantora estar dormindo fez com que ela não se defendesse dos solavancos e batidas, o que fez com perdesse a consciência. No processo de capotagem, esteve sem defesa e desmaiada, o que não impediu que se fraturassem as costelas, que perfuraram seu pulmão. A causa da morte se deu por asfixia. Aos 39 anos de idade falecia ali uma das mais queridas cantoras evangélicas brasileiras de todos os tempos. No seu sepultamento, acontecido em Mesquita – RJ, a polícia militar registrou a presença de 9,5 mil pessoas no cemitério. As pessoas cantavam seus hinos, celebridades, políticos, amigos e familiares estiveram presentes naquela despedida. Denise deixou seus dois filhos, David e Daniel órfãos. Fonte: http://www.denisecerqueira.com.br
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